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Em meio a tantas idas e vindas de pessoas queridas recentemente, me peguei fazendo uma análise levemente mais profunda sobre o tema.

Os encontros e despedidas da vida.

Uma vez que a gente resolve deixar o nosso mundo e partir em rumo ao desconhecido, conhece-se o verdadeiro significado da palavra SAUDADE.

A saudade de verdade, aquela que dói, que aperta lá no fundo. Aquela que te traz um sorriso quase infantil diante de uma fotografia. A saudade de quem vai e vem. E não volta…

A saudade de uma casa, do banco de uma praça, de um cheiro, de um gosto. Daquela vista linda. Saudade de um momento, inexplicável. Saudade do frio insuportável. Saudade de sensações que a vida é capaz de te proporcionar. De sentimentos que você nem sabia que existiam. Saudade da surpresa, do risco. Do não sei. E do não quero saber. Saudade de ir, de vir, de ir de novo e de vir mais uma vez. De voltar. De querer voltar. De ir pra voltar. De andar. De vagar. Saudade da liberdade, de espírito.

Saudade de quem veio e foi. De quem veio e quase ficou. De quem foi e não voltou. Das pessoas, tantas. Que passaram…

Da oportunidade diária de simplesmente se conhecer pessoas pelo caminho. Pessoas de todos os lugares, de todas as cores, todas as tribos e de universos tão diferentes. Inclusive de você mesmo. E é impressionante a afinidade que se pode ter com uma pessoa que simplesmente passa pela sua vida. E que te faz tanta falta.

Aquele amigo que foi seu cúmplice em tantos momentos e está tão longe. Ou aquele que dividiu o mesmo teto tanto tempo e hoje em dia nem se falam mais. O pentelho do trabalho que você xingou tanto e até que sente saudade. Sua amiga fofa que te ajudava nas aulas de inglês, aquele chefe que sempre foi tão paciente nos momentos difíceis. O casal de amigos mais do que especiais que você sabe que pode contar mesmo do outro lado do mundo, ou a que é maluca que nem você, e vocês sempre se encontram nos lugares mais inusitados. Às vezes até mesmo sem querer. A que te levava pra noitada todo santo dia, ou o que você não entendia sequer uma palavra do que dizia, e mesmo assim passavam horas juntos.

Viajar não é fácil. É um teste de desapego, diário. É ter que entender na marra que as pessoas entram e saem das nossas vidas mesmo, por mais que você as queira por perto. É ter de dizer adeus a uma pessoa que você tem certeza que poderia passar o resto da vida ao lado, e não pode, por uma “simples” questão geográfica.

É deixar pessoas entrarem na sua vida sabendo que tem hora pra partir. É dizer olá hoje sabendo que dirá adeus amanhã. E que você realmente não sabe se irá revê-lo novamente algum dia na vida. Provavelmente não. Mas é saber se envolver apesar de tudo isso. Se entregar do mesmo jeito. Saber criar a partir dessa base tão abstrata, vínculos jamais criados. Com nenhuma outra pessoa.

É entender de verdade e não só na teoria, que as pessoas realmente levam um pouco da gente e deixam um pouco de si a cada encontro.

Poder dizer com conhecimento de causa, que a vida é certamente a arte dos encontros…

E ter uma certeza nessa vida: esteja onde estiver, sempre faltará um pedaco de você.

Boas surpresas.

Longe do tumulto e da confusão usual.

Longe do excesso de música, pessoas e sons.

Longe de tudo que se tornou desagradável.

Longe do que já não faz mais parte de quem você é.

O tempo não passa, o mundo pára…

Perto somente de quem se quer estar.

Da natureza, do céu e do mar.

Da luz de uma lua que faz a noite parecer dia,

Perto de toda a energia do planeta.

Encontra-se a paz de espírito,

O que vem do fundo da alma.

A sensação de bem estar que contagia,

E te faz transbordar.

De uma forma imprevisível,

Surge então um recomeço,

Que vai além da passagem do ano.

O início de um novo ciclo.

O recomeço de você mesmo.

Chega 2010.

Em paz.

Meia palavra, basta.

O tempo todo. Corrido. Suado. Gasto. Aproveitado.

Horas. Minutos, segundos, valiosos. Dias, longos. Curtos. Infinitos. Inacabáveis. Insuportáveis. Incomparáveis, insubstituíveis. Inacreditáveis.

Dias. Lindos, ensolarados. De alegria. De festa. De paixão, sorrisos. Carinho. De risadas, descanso. De amor no coração. De alma lavada. Dias de paz.

Noites. De amor e paixão. De ódio. Solidão. Diversão. Reflexão. Insônia, muita. De pensamentos. De criação. Conhecimento. Auto-conhecimento. Suposições, incertezas. Noites longas.

Planos. Contraditórios. Sonhos. Caminhos, mostrados. Concretização. Realização. Pessoal, profissional. Reconhecimento. Início.

Mudança. Interior, da alma. Diversidade. Música, muita música. Arte, em tudo. Esclarecimentos. Cultura. Conhecimento. Seletividade. Absurda. Incompreendível. Esquisita.

Sorrisos. Gargalhadas. Amores, olhares. Leveza, bem estar. Suspiros. Calma, tranquilidade. Certeza, alguma. Cumplicidade. Sonhos. Pés no chão, cabeça nas nuvens. Esperança. Liberdade, de espírito.

Dor. Saudade. Decepção, profunda. Encontros. Desencontros. Sentimentos inusitados, inventados. Frustrados. Tentativas. Conquistas.

Idas. Vindas. Mais olhares. Registros. Mais momentos. Certos, errados. Exatos. Viagens. Mentais, físicas. Da alma. Aprendizado, imenso. Expressão.

Descoberta. Percepção. Sensibilidade, razão. Emoção. Força, segurança. Entrega. Acertos, errados. Corrigidos.

Tempo, que passa. Que corre. Que voa. Tempo que não volta. Tempo sem tempo. Que não começa, nao dura e nem termina. Não vem, nem se vai. Tempo que fica, pra todo o sempre. Todo o tempo do mundo.

2009 se foi.

Num piscar de olhos.

Até segunda ordem.

23 horas de uma segunda-feira chuvosa. Você levanta da cama, se olha no espelho. 27 anos… E agora? Lá vem mais uma noite mal dormida. A cabeça não para. Lembranças de 27 anos de vida, muito bem vividos, diga-se de passagem.

Pega as fotos antigas. Existe melhor sensação no mundo? Do que àquela saudade doce trazida por uma foto de uma viagem, de uma época, de um momento, de uma pessoa? Não tem.

Aí você se analisa. E não é que o tempo te fez bem? Vai pro espelho de novo. Tá bom, você já esteve mais magra; mas também já esteve mais gorda. Rugas, de expressão, e algum sinal de cabelos brancos. Peraí. Cabelos brancos? Puta que pariu! Quer dizer que agora, justo agora que você cansou de mudar a cor do cabelo só pra mudar alguma coisa na sua vida, você é obrigada a pintar seu cabelo. Injusto? Irônico, você pensa. E parte pra uma análise mais profunda…

Aos 17, ter 27 anos significava estar casada, com filhos, uma carreira, um futuro promissor e uma vida de gente grande. Aos 27, você lembra que aos 17 provavelmente estava bem mais perto de tudo isso, do que está agora.

Há quem surte aos vinte e poucos. Há quem queira sair da vida padrão e seguir um caminho diferente. Talvez mais difícil, mas certamente mais emocionante. Há quem queira deixar o seu mundo pra trás por um momento. Um mundo que talvez nunca tenha sido o seu, de fato. Há quem queira sair sem rumo, pra ver aonde os seus pés te levarão. Há quem queira ver o mundo com seus próprios olhos, e aí sim, saber de que forma deve-se olhar para o mundo. Quem queira sentir frio de verdade, pra depois poder sentir o calor. Saudade de verdade, pra saber o que é estar em casa. Quem queira ver coisas jamais vistas, pra saber o que quer ou não, ver daqui em diante. Há quem queira se perder, pra poder se encontrar. Ir a lugares jamais imaginados, pra poder escolher os melhores. Passar por situações inesperadas e desesperadoras, pra aprender a manter a calma. Viver com pessoas diferentes de você, para entender o sentido da palavra igualdade. Há quem queira por um momento, se sentir totalmente sozinho no mundo. Só pra ver o que acontece.

Há quem arrisque. Mesmo que arriscar signifique jogar pro alto tudo o que você acreditava até então. Toda a orientação que você pensava que tinha. E quando você, finalmente resolve se aceitar como uma desorientada, você se orienta. Irônico? Aham. De novo.

Não deveria ser assim, supostamente. Mas é. Muitas coisas supostamente não deveriam ter sido como foram. Você não deveria ter largado a faculdade. Não deveria ter se afastado da sua amiga de infância. Não deveria ter jamais confundido amor e amizade. Não deveria ter largado aquela oportunidade de emprego. Não deveria ter dispensado aquele carinha que gostava tanto de você e muito menos ter dado idéia pra aquele babaca, que nunca te deu valor. E que você sempre soube.

Não deveria ter tido tantas ressacas. Não deveria ter lutado tanto contra a sua natureza. Não deveria ter matado as aulas de inglês. Não deveria ter se iludido com promessas, nem acreditado em tudo o que ouvia. Não deveria ter dado tanta importância a coisas pequenas. E muito menos a pessoas pequenas. Não deveria ter criticado tanto o seu irmão. E nem contrariado tanto sua mãe. Não deveria ter chorado noites e mais noites, por tanta besteira. Não deveria ter dormido tantas vezes até as duas da tarde. Nem ter se importado com o que pensavam de você. Não deveria ter sido fútil e nem escutado música ruim. Não deveria ter perdido um diazinho sequer de sol. Não deveria ter dormido nas aulas de história e nem ficado neurótica pra ser magra como as modelos de capa de revista. E não deveria de jeito nenhum, ter tentado ser igual a todo mundo.

Mas você fez tudo isso. Repetiu. E repetiu de novo. Mesmo sabendo a merda que estava fazendo. Hoje em dia, quando esboça um arrependimento, você percebe que as coisas deveriam sim, ter sido assim. Exatamente assim. Porque agora, você sabe o que você gosta. Sabe pelo que vale à pena ou não chorar. Sabe em quem confiar. Sabe o que é boa companhia, um bom papo e uma boa noite. Sabe ouvir um não. E sabe dizer não. Sabe o que te dá prazer. Sabe que tem talento e que é capaz. Sabe o que é um bom programa, uma boa música. Um bom filme. Sabe que não vai se contentar com qualquer coisa, nem com qualquer pessoa. Sabe usar suas qualidades a seu favor. Sabe ser seletiva. Sabe que você não é, e nem nunca será, igual a todo mundo. E você sabe que hoje, aos 27 anos de idade, você finalmente se tornou a pessoa que realmente é.

Até segunda ordem.

Pausa

Com a cabeça longe
e aperto no peito
paro, sento, penso, escrevo
tentando reorganizar idéias
que um dia me pareceram claras.

Sem motivo aparente
sem regras, nem parâmetros
sem chances
sem pretensão alguma.

Numa tentativa vã de extravazar
a angústia que consome
e surge quase sem querer
de um motivo imperceptível
de natureza inexplicável.

Palavras me vêm e me faltam
assim como o ar
que não me deixa respirar
me fazendo sufocar.

Martelando a cabeça
que transmite ao coração
a turbulenta sensação
que provém da emoção.

A dor que se mistura
com a grande confusão
da velha conhecida,
a tal da contradição.

Dia de sol

algum sentimento
lembranças e palavras que vêm
e se vão
como o vento.
águas passadas
que voltam como ondas
quebradas
e que nem sempre passam.

trazem o calor
o frescor de uma chuva
e cheiro de terra molhada
do que restou
de um lindo dia de sol.

De passagem

e se não?
se for mais
do que se imagina
que se supõe
e se sente

e se for mais do que parece?
que se sabe
do que ja foi
um dia dito
do que vai ser
ou poderia ser

era pra ter sido?
se ainda será
e tudo se acabou
como começou
se foi, em vão.
passou.

Think Different.

Think different.

Esse vídeo, sem dúvida alguma, merece um post. Das melhores campanhas – se não a melhor – que eu já vi na vida. Foi lançada em 1997. 12 anos atrás. A apple consegue estar indiscutivelmente sempre à frente. Criando e inovando. É um ícone, Steve Jobs é um gênio. O texto é sensacional, na medida certa. Passa perfeitamente a importância que os gênios incompreendidos têm na humanidade.

Mas a idéia do post passa (quase) longe de discutir a genialidade publicitária da campanha e é muito, mas muito menos, fazer propaganda da Apple: é rever o conceito de loucura, que anda um pouco perdido.

Os chamados rebeldes, desordeiros, “the round pegs in the square holes”, os que simplesmente não se contentam em seguir o que foram condicionados a seguir. Os que querem mais, os desassossegados, os que acreditam que podem mudar o mundo, ou ao menos fazer sua parte.
Na minha opinião, dos maiores dons que o ser humano pode ter. Uma benção. Sorte de quem consegue ver as coisas sob um outro ponto de vista, que valoriza o inusitado, tem um outro olhar, outra perspectiva. De quem não é mais um na multidão, que simplesmente segue a corrente e o que é imposto pela sociedade.
Quer coisa melhor? Ter personalidade, criar, inovar.  Ir sim, muitas vezes contra a maré, e ter que pagar o preço disso. Mas ter atitude, ter individualidade.

” A loucura ou insânia é segundo a psicologia uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados anormais pela sociedade.” (Wikipedia)

Entendido. Obviamente, existem inúmeros graus de insanidade. Mas vem cá…que sociedade?

As pessoas roubam, se agridem. Passam por cima uma das outras pra se conseguir o que quer. Pais jogam filhos pela janela. Crianças atiram em colegas de classe. Bispos se fazem de Deus pra tirar dinheiro de gente humilde e ignorante. Aviões terroristas são lançados em prédios matando milhares de pessoas, inocentes. Livros são praticamente coisa do passado. Padres são pedófilos. Existe uma mulher pelada para cada tipo de fruta. Crianças de cinco anos dançam e cantam a baixaria do funk carioca. A maior rede de televisão e de suposta informação do Brasil é um antro de baboseira. Não se tem mais amor próprio, nem dignidade. Ninguém nem sabe o que é poesia. Ninguém respeita mais ninguém. Ninguém te pede licença e muito menos agradece um favor. Os jovens não têm esperança. Política é motivo de piada. Meninas de dez anos ficam grávidas. Valoriza-se a bunda e não o cérebro. O mundo tá acabando. Cada verão é mais quente e cada inverno mais frio. As pessoas continuam jogando lixo na rua. As pessoas continuam desmatando as florestas. As pessoas continuam não economizando água, as pessoas continuam cagando pro que vai acontecer com o planeta em 10 ou 20 anos. Enquanto políticos bebem champagne em suas ilhas particulares adquiridas com dinheiro roubado do povo, VINTE E CINCO MIL PESSOAS MORREM DE FOME NO MUNDO, POR DIA!

Como assim? Eu perdi alguma coisa? Quem são os loucos da história? Que sociedade é essa que pode julgar quem é ou não é louco? Aliás, ainda existe algum parâmetro pra loucura?

Porque se ser louco consiste em simplesmente não respeitar o status quo, se sentir um peixe fora d´agua nessa brincadeira, eu tô indo me internar.

Peace Trough Music

Depois de anos sumida e completamente tomada pelo “mal da monografia”, voltei pra um post rápido.
Li a coluna do Artur Xexéo esse fim de semana, que falava sobre o Playing for Change: Peace Trough Music – o movimento que há 4 anos trás uma idéia extremamente criativa e tem como conceito básico “inspirar, conectar e trazer a paz ao mundo”. São 7 vídeos, onde artistas são filmados em suas performances, que são apresentadas juntas, em uma só canção. Os clipes são maravilhosos, emocionantes e reacendem em nós uma esperança: que a música pode mesmo mudar o mundo.

Vou postar aqui dois deles: “One Love” do Bob Marley e “Stand by me” de Ben E. King, celebrizada por John Lennon. Essa última inclusive, conta com a participação de um músico do Rio de Janeiro!
 

 

Assim como Xexéo disse em sua coluna, é impossível (mesmo!) não comparar esse movimento com a multidão que se juntou em Londres há uns 10 dias atrás pra gravar um anúncio pra T-Mobile. O engraçado é que as pessoas nem sabiam, de fato, o que seria feito na Trafagal Square, e mesmo assim compareceram. Resultado: 13 mil pessoas cantando “Hey Jude” em um telão gigante de videokê. O filme ficou sensacional, empolgante e até comovente…Gente de todas as idades, nacionalidades e raças, compartilhando a alegria da música em praça pública. Isso sim é publicidade. Na minha opinião, vai além da publicidade em si. No fundo, mesmo que inconscientemente, acho que muitas pessoas ali estavam cantando pela paz também. E cá entre nós, a trilha sonora é muito bem escolhida. Quem no mundo não conhece ou não sabe cantar ao menos um pedacinho de “Hey Jude” dos Beatles?  E não é a toa, que John Lennon aparece aqui de novo,  relacionado com a paz que defendeu ao longo de toda a sua vida.

Fica aqui então meu total apoio e admiração ao movimento Playing for Change, a John Lennon e a todos os outros movimentos e pessoas que tentam e pregam da maneira que seja, o que há de mais importante pra humanidade – A PAZ.

“All we are saying is give peace a chance” (John Lennon)

Copacabana - La paz nos tradicionais ônibus bolivianos. Pequenos, sem corredor e as malas vão em cima do ônibus, amarradas! Por incrível que pareça, uma das melhores viagens que fizemos por lá.

Copacabana - La paz nos tradicionais ônibus bolivianos. Pequenos, sem corredor e as malas vão em cima do ônibus, amarradas! Por incrível que pareça, uma das melhores viagens que fizemos por lá.

 

Potosí para Uyuni; A beleza das cores durante o dia, se transformam em perigo em forma de estrada e medo ao anoitecer.

Potosí para Uyuni; A beleza das cores durante o dia, se transforma em perigo em forma de estrada e medo, ao anoitecer.

 

Ônibus boliviano na caótica La paz...
Ônibus boliviano na caótica La paz…

 

    Os ônibus da Bolívia são mundialmente conhecidos: ninguém espera muito conforto, tratando-se de um país de terceiro mundo (que infelizmente às vezes parece o décimo mundo); a desorganização é visível nas estações – nas que existem de fato. Ter cuidado com ônibus noturnos e estradas mal sinalizadas já era previsível também. Mas sinceramente, eu não tinha nenhuma noção da proporção do perigo. E claro, da falta de opção.

Éramos cinco: eu, Fernanda, Fabrício, Joaquim e a Jane, uma alemã que conhecemos e viajou uns 10 dias com a gente. Depois de uma viagem noturna de 14hs entre os abismos de La Paz e Sucre, tivemos um imprevisto e mudamos todos os planos. Aconteceram várias coisas e o que eu posso dizer é que o nível de cansaço físico e emocional da galera estava realmente alto. Ânimos alterados, se é que vocês me entendem. Ficamos umas 4hs em Sucre e fomos direto pra Potosí, de onde saíria o bendito ônibus para Uyuni.

Chegamos em Potosí por volta das 17hs, completando assim, quase 1 dia inteiro literalmente na estrada. O nível de stress e cansaço, obviamente só aumentava e o desespero para chegar logo em Uyuni, nem se fala. No dia seguinte seria Carnaval na Bolívia e nada funcionaria. Depois de andar da rodoviária até uma rua, de onde saiam somente os ônibus para Uyuni (não me pergunte o porquê), corri por várias agências atrás dos tickets. Todas lotadas. Ouvi “O último acabou de sair” ou “Agora só depois de amanhã” várias vezes, e finalmente consegui um ônibus…Alegria!!! Sentamos os cinco dentro da agência e esperamos sorridentes por umas 2hs, o sonhado ônibus que nos levaria rumo ao Salar de Uyuni.

Eu não tinha noção do que estava por vir. Entrei no ônibus e meu lugar era do lado do Fabrício. Aonde? Na última fila do ônibus. Sim, aquela que são cinco bancos e nenhum espaço para as pernas. Banheiro? Sem chances. Sentamos…Não tem lugar pras pernas mas atrás tem mais espaço né? Não! O banco não deitava, emperrado. Resumo, mal conseguíamos respirar. Inclusive porque o odor não é mesmo dos mais agradáveis…”Não vou aguentar 9 horas aqui dentro!” “Calma Renata, vai passar rápido.” eram algumas das idéias conflitantes que se repetiam frenéticamente na minha cabeça. (um pouco volúvel, confesso!) Fabrício coitado, mudo, do meu lado.

Ainda estava claro quando deixamos Potosí. O ônibus fazia várias paradas e entravam mais e mais pessoas. É realmente impressionante. Os ônibus vendem o dobro dos assentos e os nativos viajam horas e horas em pé. Senhoras, crianças e até idosos.  Numa dessas paradas, eles abriram o bagageiro e eu receosa, olhei pela janela para vigiar nossas mochilas. ” Fabrício, entrou uma pessoa no bagageiro…uma não, duas.” eu disse…E ele: “É o que? Olha as nossas mochilas hein Renata…” “Fabrício, entrou uma mulher. E um bebê!”  E eles simplesmente se fecharam lá dentro (…) Três pessoas e um bebêzinho de uns 2 anos viajaram DENTRO DO BAGAGEIRO. Inacreditável!

A estrada era terrível. Asfalto nem pensar, aliás, nem terra. Era praticamente feito de pedra. Nenhuma sinalização e a única luz que eu vi, foi o farol do ônibus que vinha na direção contrária a nossa, correndo, obviamente na mesma pista (mão dupla pra quê né?). Pânico total. O pior é que o motorista corria, e muito. Me senti no Paris-Dakar. Naquela estrada, o ônibus sacudia tanto que várias vezes durante a viagem, tudo o que tava no bagageiro interno caia na nossa cabeça, e isso quase que totalmente no escuro, pra valorizar ainda mais o cenário do filme de terror.

Eu nunca senti tanto medo. Enquanto os outros dormiam profundamente, eu e Fabrício não pregamos o olho um segundo. Às vezes eu olhava lá pra fora, na esperança de ver alguma civilização. Nada. Só pedras, escuridão e claro, abismos. Toda hora o ônibus parava, algum deles descia, ficava lá fora..às vezes aparecia alguém…Depois voltavam. Uma das vezes o homem pegou uma pá (?) no bagageiro. Muito estranho. E foi a partir daí que o cansaço emocional começou a bater na gente de uma maneira terrível: paranóia. É impressionante como a nossa criatividade pode ser boa e má ao mesmo tempo. Confesso que pensei muita besteira. E piorou quando vi que o Fabrício também estava com medo. Foi horrível. Pensava constantemente em acidente, ônibus caindo de abismo, tráfico, sequestro, roubo, alguma “Farc”, tudo! Cada vez que o ônibus parava eu olhava ao redor e imaginava: Vai ser agora! 

Quase as 2 da manhã, o ônibus parou e ficou. Só enxerguei uma luz bem longe pela janela…e uma movimentação de pessoas. Depois de uma meia hora parado, alguém veio falar que todos deveriam descer do ônibus. Desespero…

Graças a Deus, logo em seguida explicaram que era por conta de um lago ou alguma coisa que os ônibus estavam atolando. Era preciso que ficasse mais leve para (tentar) passar pelo lago. Resultado: descem os homens, ficam as mulheres. Os meninos coitados, congelando no deserto durante a madrugada, e a gente lá dentro, rezando pro ônibus não atolar…E então o ônibus passou, derrapando pela lama e todos voltaram para seguir viagem…

Depois de tudo isso, eu não tive outra alternativa. Completamente exausta, eu simplesmente relaxei e caí na gargalhada. Eu ri muito! Me dei conta que eu estava na Bolívia e que não tinha jeito…Passar por isso faz sim, parte do turismo nesse país. Há quem vá para a França andar de trem bala, há quem vá para Amsterdã andar de bicicleta, pra Londres andar na mão inglesa, pra Lisboa andar nos elétricos e há sim, e porque não, quem vá pra Bolívia para andar no ônibus da morte! 🙂